terça-feira, 17 de julho de 2012

Destaque | THEE ORAKLE - SMOOTH COMFORTS FALSE - 2012 | Portugal


Género
Doom / Death Metal Progressivo / Gótico (algo entre Moonspell e Lacuna Coil)

Foram consolidando a sua carreira discreta e sustentadamente, e aqui estão eles agora, com tal elegância. Os Thee Orakle mostram ao segundo assalto que têm uma capacidade acima da média para explorar diversos elementos musicais e fundi-los em algo obscuro, místico e progressivo.

No anterior “Metaphortime”, de 2009, a banda já tinha assumido que é uma ávida apreciadora de vários géneros musicais, mas ainda não tinha atingido o patamar de experimentalismo e arrojo que este “Smooth Comforts False” demonstra. Os compassos, os ambientes, os acordes, os arranjos, os solos jazzísticos, tudo isto está mesclado para nos surpreender quando menos esperamos. Senão vejamos ainda a fantástica inclusão do trompete em “Psi-Drama”, por Ricardo Formoso, do saxofone em “Rescue Mind”, por Fábio Almeida, ou da desconcertante voz de Adolfo Luxúria Canibal, dos Mão Morta, em “Farway Embrace”.


O poder melódico também está muito mais apurado, com Micaela Cardoso em excelente plano com vários coros e ambientes de teclado magnânimos. Do outro lado temos um animalesco Pedro Silva que não claudica em momento algum. E a casar com esta brutalidade estão também temas mais matemáticos e altamente aventureiros como “The Bridge Of The River Flowing” ou “Evil Dreams”, este último com Yossi Sassi Sa’aron (guitarrista dos israelitas Orphaned Land) num instrumento tradicional chamado bouzouki. “Evil Dreams” será também, porventura, o grande "híbrido", mas também dos mais apetecíveis, deste trabalho.

Não menos fantástica é a melodia da seguinte “Winter Threat”, corroborada por Marco Benevento, vocalista dos The Foreshadowing, e de “Hopefulness” – a momentos enternecedora e comovente. Mas tudo isso nunca atinge aquela amistosidade de um "sonzinho" radio friendly, o que para o bem ou para o mal, não belisca minimamente a sua integridade. Todavia, é um facto que com estes Thee Orakle em tal plano de excelência, mereciam talvez um single apenas para “furar” a dura crosta do underground.

“Smooth Comforts False” está regado de uma coragem e audácia que pouco vemos hoje em dia, ainda menos no plano nacional. E depois, a consistência e a quantidade e fluidez de ideias dos seus executantes é inexorável. Parece também óbvio que sem os Opeth ou os Orphaned Land a banda de Vila Real talvez tivesse nascido e crescido de outra forma, mas é cada vez mais evidente que são donos e senhores do seu nariz, criando uma sonoridade empolgante e personalizada, mesmo que saibamos de onde bebem as suas influências. [8.7] N.C.


Quando foi anunciado o nome deste segundo longa-duração dos vila-realenses Thee Orakle, não pudemos deixar de pensar que tal seria um pouco arriscado, dado ser o quase fatídico álbum número dois, ainda para mais sendo a tão difícil sucessão a ‘Metaphortime’, disco recheado de bons temas, coesos e… com ‘Alchemy Awake’.

Apesar de tudo isso, o septeto forjou um conjunto de temas que encaixam como uma luva nesse título tão arriscado, reforçando a sua posição num espectro onde ainda não existem muitas bandas a trabalhar por cá e demonstrando que os trabalhos do passado não foram meras coincidências. Do princípio ao fim, ‘Smooth Comforts False’, cativa e absorve-nos ao som de riffs poderosos, ritmos contagiantes e numa vistosa disputa entre as vozes de Pedro Silva e Micaela Cardoso, sem cair nos clichés que acabaram por saturar uma tendência que se instalou há alguns anos, com a vocalista num registo extremamente bem conseguido, numa evolução notória relativamente aos trabalhos anteriores, mas sem ofuscar minimamente toda a máquina musical presente nestes nove temas. A toada Doom foi relegada para um plano pouco mais que residual e investiu em linhas um pouco mais progressivas, equilibrando-as com as facetas Death e Gothic que pautam a matriz sonora da banda.

Para este álbum, a banda contou, também, com as participações especiais de Adolfo Luxúria Canibal, na faixa de abertura ‘Faraway Embrace’, incutindo-lhe um tom mais sombrio, poeirento, imiscuído no som do saxofone, dando a este tema uma aura cinzenta, soturna, mas contagiante. Em ‘Evil Dreams’, temos por alguns minutos um perfume oriental a pairar, com Yossi Sassi e o seu bouzouki a deixarem a sua marca, num tema escrito à medida para os Orphaned Land, porventura. Por fim, Marco Benevento surge em ‘Winter Threat’ e, no seu registo que fica ali entre o bucólico e o amargurado, luta com uma das mais conseguidas melodias de todo o álbum, a que se junta mais uma bela prestação de Micaela Cardoso, resultando num dos pontos altos destes 42 minutos de música. A caminho do fim, ‘Hopefulness’ dá-nos a estocada final, com mais uma melopeia que fica a bailar no nosso cérebro muito depois de ter terminado; e mais nada há a fazer do que voltar a premir a tecla play para confirmar o arrojo deste álbum, que teve, mais uma vez, o dedo de Daniel Cardoso na produção.

Ainda a procissão vai no adro e já podemos dizer que temos entre mãos um dos candidatos a disco do ano e só esperamos, depois desta degustação, poder ouvir estas malhas ao vivo.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Thee_Orakle
http://www.myspace.com/theeorakle
https://www.facebook.com/pages/THEE-ORAKLE/123835520986090
http://www.etherealsoundworks.com/index.php?27,thee-orakle-smooth-comforts-false

Sem comentários:

Enviar um comentário